Os combates começaram quando homens fortemente armados atacaram o campo de Ngagara e o ISCAM em Bujumbura
O Burundi registrou nas últimas 48 horas mais de 130 mortes nos ataques e confrontos mais violentos nesse país mergulhado em profunda crise política. Oitenta e sete pessoas, sendo 79 rebeldes e oito soldados, morreram na sexta-feira, durante e depois dos ataques coordenados contra três campos militares em Burundi, segundo informou o exército, que havia fornecido um balanço inicial de 12 mortos. Os combates começaram às quatro da manhã, quando homens fortemente armados atacaram o campo de Ngagara e o ISCAM (Instituto Superior de Comandantes Militares), respectivamente ao norte e ao sul de Bujumbura. O Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques. Por outro lado, neste sábado, os habitantes de Bujumbura, capital de Burundi, ficaram horrorizados com a descoberta de dezenas de cadáveres espalhados pelas ruas dos bairros contrários ao terceiro mandato do presidente, enquanto que, do outro lado da cidade, partidários do regime comemoravam o massacre. Foram encontrados os corpos de ao menos quarenta jovens. Fontes falam que o número de mortes é muito maior. Em Nyakabiga, no centro de Bujumbura jornalistas e várias testemunhas relataram ter visto 20 corpos de pessoas mortas a tiros, alguns a curta distância. “Algumas dessas crianças tiveram seus rostos completamente desfigurados, enquanto em outros, o tiro entrou pela parte superior do crânio, (…), é um horror absoluto, aqueles que fizeram isso são criminosos de guerra”, criticou uma jornalista do Burundi, sob condição de anonimato. No distrito vizinho de Rohero II, cinco corpos de jovens jaziam em uma de suas principais vias da localidade. Em Musaga, “contei 14 cadáveres executados esta noite por soldados e policiais”, falou um funcionário público. “A maioria dos mortos é de jovens pais de família que estavam em casa, foi uma carnificina, não há outra palavra”, falou um morador de Nyakabiga. Burundi está mergulhado numa grave crise desde o anúncio em abril, da candidatura do presidente Nkurunziza a um terceiro mandato, considerado por parte da população algo contrario à Constituição e ao Acordo de Arusha que pôs fim à guerra civil (1993-2006).
Fonte: Exame, em dezembro de 2015