“Nós continuaremos lutando”, diz Tapayona Waiãpi, 36 anos
Eles aparecem silenciosamente, aparentemente do nada: uma dúzia de figuras, nuas, exceto por sua tangas vermelho-vivo, bloqueando a estrada de terra. São os Waiãpi, uma antiga tribo que vive na Amazônia brasileira, que agora teme a invasão de empresas mineradoras internacionais. Conduzindo os repórteres da AFP para um pequeno assentamento de cabanas de palha escondidas entre folhagens, os membros da tribo pintados com tinta vermelha e preta se comprometem a defender seu território. E brandem arcos de dois metros e flechas para reforçar suas palavras. “Nós continuaremos lutando”, diz Tapayona Waiãpi, 36 anos, no assentamento chamado Pinoty. “Quando as empresas vierem, continuaremos resistindo. Se o governo brasileiro enviar soldados para matar pessoas, continuaremos resistindo até o último de nós estar morto”. A reserva indígena Waiãpi fica em uma floresta preservada perto do extremo leste do rio Amazonas. Ela faz parte de uma zona de conservação muito maior, a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), que cobre uma área do tamanho da Suíça. Cercada por rios e árvores altas, a tribo funciona quase que inteiramente de acordo com suas próprias leis, com um modo de vida às vezes mais próximos da idade da Pedra do que do século XXI. No entanto, o Brasil moderno fica a poucas horas de carro. E agora, o governo federal está pressionando para abrir a Renca a mineradoras internacionais que cobiçam os ricos depósitos de ouro e outros metais escondidos soba a vegetação. Em agosto, o presidente Michel Temer decretou o fim das restrições à mineração na Renca, provocando uma onda de protestos. Temer voltou atrás em setembro.
Estrada
A estrada de terra é a única rota para o território Waiãpi. Pinoty, onde algumas dúzias de pessoas dormem em redes sob tetos de palha e sem paredes em volta, é a primeira aldeia – a fronteira. A construção da BR-210, conhecida como Perimetral Norte, começou durante a ditadura militar (1964-1985) com o objetivo de ligar o Brasil à Venezuela. O financiamento fracassou e a construção foi interrompida na década de 1970, deixando a estrada abandonada na selva profunda, a mais de 1.100 km do objetivo pretendido.
Fonte: Istoé, em outubro de 2017